Reuters/Brasil Online
TEERÃ (Reuters) - As autoridades iranianas suspenderam a sentença de morte por apedrejamento dada à mulher condenada por adultério Sakineh Mohammadi Ashtiani, informou o Ministério do Exterior nesta quarta-feira, após semanas de críticas de várias partes do mundo.
"O veredicto relativo aos casos extraconjugais foi revogado e está sendo revisto", disse o porta-voz do ministério Ramin Mehmanparast à emissora estatal iraniana em língua inglesa Press TV.
O anúncio foi feito um dia depois de o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, ter dito que a sentença era de "uma barbárie indizível" - a mais recente em uma sequência de críticas expressas por potências estrangeiras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a oferecer asilo a Sakineh, mas recebeu uma negativa pública do governo iraniano, que chamou Lula de uma "pessoa sensível" mas que não tinha conhecimento de todos os fatos.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, elogiou a decisão iraniana de suspender a pena de morte por apedrejamento. "É positivo que tenha sido suspenso... A maneira de defender a melhora das pessoas não é com estridência, nem com condenações fáticas, é com diálogo, que é o que fazemos", disse a jornalistas.
Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada em 2006 por adultério, que é um crime capital na República Islâmica. Ela também foi acusada de envolvimento no assassinato de seu marido.
Em entrevista telefônica ao vivo, Mehmanparast disse que a acusação de homicídio "está sendo investigada para que seja emitido o veredicto final".
A mídia iraniana sugeriu que a sentença de morte por apedrejamento - imposta aos que cometem adultério sob a sharia, adotada pelo Irã após a Revolução Islâmica de 1979 - não será implementada, mas que Ashtiani poderá ainda ser executada por enforcamento se for condenada por homicídio.
Homicídio, adultério, estupro, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas podem ser punidos com a pena de morte no Irã.
De acordo com um advogado ouvido pela Reuters, ela pode ser condenada a 15 anos de prisão se for considerada cúmplice do assassinato.
Em nenhum momento da entrevista, que foi dada na língua farsi mas foi transmitida com tradução simultânea para o inglês, ele mencionou a palavra "apedrejamento", referindo-se apenas à "sentença de morte" de Ashtiani.
"Consideramos este um caso muito normal", disse Mehmanparast. "Este dossiê se assemelha a muitos outros dossiês que existem em outros países."
"JOGO POLÍTICO"
Ativistas de direitos humanos, intelectuais e políticos estrangeiros, incluindo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e sua esposa, Carla Bruni, declararam apoio à causa de Sakineh.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano P.J. Crowley disse a jornalistas: "Apedrejamento é um ato bárbaro e repugnante. Nós estávamos juntos a várias vozes ao redor do mundo que condenaram essa possível atitude do Irã. Mas no fim o caso está nas mãos das autoridades iranianas".
Karim Lahidji, presidente da Liga Iraniana pela Defesa dos Direitos Humanos, que fica em Paris, disse à emissora de tevê France 24: "Estamos muitos felizes com o resultado desta campanha... no entanto, até agora, nenhuma decisão foi tomada pela Justiça."
"Enquanto ela não estiver livre, nós realmente não sabemos se o caso está realmente fechado."
Mehmanparast culpou os Estados Unidos por suscitar o furor com o objetivo de prejudicar a imagem internacional do Irã, no momento em que o país enfrenta sanções que visam frear seu programa nuclear.
"A impressão que se tem é que estão jogando um jogo político", disse ele.
"O caso desta senhora... está diretamente ligado com a guerra branda que está sendo travada contra o Irã e o objetivo é criar uma disputa nas relações entre Irã, Brasil e Turquia."
Brasil e Turquia tentaram sem sucesso resolver o impasse entre o Irã e potências ocidentais devido ao programa nuclear da República Islâmica, que os EUA e países europeus suspeitam ter como objetivo construir uma arma nuclear. O Irã nega a acusação.
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse que o Irã pode retornar às negociações com as potências após o encerramento do mês sagrado do Ramadã, que termina esta semana. Ativistas de direitos humanos diziam temer que o apedrejamento de Sakineh pudesse ocorrer após o fim do Ramadã.
De acordo com a Anistia Internacional, o Irã perde apenas para a China no número de pessoas que executa. Pelo menos 346 pessoas foram executadas no Irã em 2008.
Fonte: Extra Online
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